quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Cartas 3#

" E se a partir de agora, tivesse apenas mais vinte e quatro horas de vida? Essa perspectiva assusta-me, devo assumir. Mas reflectindo sobre este assunto, coloquei-me numa posição complicada. Será que mudaria a minha atitude? Teria tempo para tomar consciência do que tinha feito de errado?
. A minha família. Meu Deus, como choraria que nem uma desesperada para me convencer que eles conseguiriam ser fortes sem mim... (Talvez chorasse por ficar sem eles, sim, essa seria a principal razão).
. Os meus amigos. Há muita gente que guardo dentro do meu coração mas apenas quatro pessoas me fariam ficar destroçada. Eles sabem quem são, não preciso de identificar nomes.
. A minha paixão. E ao contrário do que se possa pensar, não é ninguém humano. São os meus cadernos, o meu único e grande vício: a escrita. O pior castigo que me podiam aplicar era guardarem todas as folhas onde passei muito tempo, escrevendo sobre as personagens que são parte de mim.
. Ele. A minha vida tinha de ter romance não acham? Apesar de ser um amor não correspondido, e de ter sofrido alguns desgostos, a forma como o vejo é diferente. Por mais que não queira amá-lo, ou deixar o assunto no passado, não consigo simplesmente não imaginar o seu rosto e permitir-me um sorriso. O que posso fazer? É diferente.

E se tivessem apenas vinte e quatro horas de vida?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Cartas 2#

« Houve alguém que me disse que era muito boa com os sentimentos dos outros mas não conseguia expressar os meus. Talvez seja por isso que as personagens das histórias que crio sejam clichés. Eu não consigo entender aquilo que sinto, interiormente sou o que se chama baralhada. Quando devo ser sensível e compreensiva algo me diz para ser fria e não confiar. Há muito pouco tempo começei a utilizar a técnica olhar bem nos olhos. Por vezes eles dizem mais que qualquer palavra. Mas mesmo assim, o meu coração não se entende com a mente e continuo a pensar contrariamente.
Será por isso que não consigo aceitar bem o esquecimento? Porque a mente diz uma coisa e o coração outra? Isso leva-me a falar sobre outro assunto, que irei contar numa próxima carta.
Nesta carta faço apenas uma pequena reflexão ao tumulto que é ser "eu" . Se ao menos alguém me entendesse...»

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Cartas 1#

" É tão difícil acreditar que tanto caminho já foi percorrido. Eu sempre quis que gostassem de mim da maneira que eu gostava de todos. Tentei ser sempre sincera, escondendo a tristeza atrás de um sorriso, o mais verdadeiro que conseguia. Eu sou a menina bem comportada, a invisível no meio daqueles que observo em silêncio. E em silêncio via que existia algo em mim que me impedia de ser totalmente feliz. Porquê? Não era eu a menina bem comportada, o exemplo dos pais, o orgulho dos avós, a amiga presente que os fazia rir e amar-me nem que fosse por segundos?
Às vezes só preciso de uma palavra agradável, de uma realidade que não afaste os meus sonhos. Mas é tão difícil ser tanta coisa ao mesmo tempo... Sufoco nos meus próprios pensamentos, não quero ser mais uma. Quero ser a única.
É pedir muito? Por favor, acreditem em mim, só quero um cantinho. Um cantinho onde não seja invisível".